Abolição da Escravatura - Reflexões

Abolição da Escravatura - Reflexões

Como a maioria de vocês já sabe, dia 13 de Maio é uma data de extrema importância – a Abolição da Escravatura no Brasil. Em contrapartida, fazendo uma análise mais profunda dos moldes de nossa sociedade, uma parcela da população (quero acreditar que seja uma pequena parcela) ainda vê o negro como inferior. Seria essa apenas uma herança do período escravocrata ou a tendenciosa ignorância do Homem em tentar tornar-se maior diminuindo o outro?

No texto de hoje vamos abordar a temática como um todo, desde a assinatura do decreto pela Princesa Isabel até algumas provocações que promovam a reflexão acerca do preconceito, envolvendo inclusive estrelas da cultura POP norte-americana.

A Abolição da Escravatura

De início já ressaltamos: não aconteceu da noite para o dia. O movimento abolicionista nacional veio ganhando força política aos poucos e sua primeira vitória foi a sanção da Lei Eusébio de Queirós, a qual proibia o tráfico de escravos, em 1850.

Os próximos passos foram a Lei do Ventre Livre (filhos de escravos nasciam livres), em 1871, e a Lei dos Sexagenários (garantia a liberdade de escravos com 65 anos ou mais), 1885. Todo esse contexto fez o número de escravos ser reduzido em grandes proporções e, apenas em 13 de Maio de 1888, ser assinado o decreto que punha fim ao sistema escravocrata, pela Princesa Isabel.

Entretanto, essa lei não garantia aos negros e mulatos direitos fundamentais, como o acesso à terra e à moradia, o que os tornou indivíduos marginalizados e contribuiu para a continuação da exclusão étnica.

Mas, afinal, por que a escravidão? De onde veio essa decisão que acabaria com tantas vidas?

Uma decisão econômica, a Escravidão – o lado desumano de seres humanos

O sistema escravocrata é de interesse apenas dos grandes detentores de terras, nobres, os quais tiveram mão de obra incessante durante séculos por um preço “baixíssimo”. O motivo econômico é o principal fator e a premissa é simples (e terrível): paga-se por um ser humano da mesma maneira que paga-se por uma mercadoria e, a partir daí, tem-se total domínio sob o mesmo.

Não existe qualquer regra ou lei que limite o controle dos senhores sob os negros. As torturas são liberadas e sustentam o ódio e até o sadismo. Nasce e morre-se sendo escravo. Gerações que não conheceram outra realidade senão a do açoite – foram cerca de 300 anos de escravidão no Brasil.
Naquela época o dinheiro e o egoísmo falaram mais alto, mais alto que os milhões de gritos desesperados de um povo condenado. Mas a questão agora é, o quão alto o dinheiro e o egoísmo discursam nos dias de hoje?

Não se trata apenas, como muitos pensam, do “Brasil ser um país atrasado, e por isso aqui tudo é ruim”. Essa é apenas uma frase pessimista e que não leva em consideração acontecimentos relevantes ao redor de todo o globo.

Em 2017, por exemplo, a eterna ameaça fascista voltou à tona e ganhou manchetes devido a protestos da extrema-direita nos EUA contra negros, judeus, gays e imigrantes. Alguns se intitulavam, com orgulho, nazistas.

Ainda no mesmo ano, as eleições alemãs foram alvo de algo que não acontecia desde 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial: um partido de extrema direita, com discursos islamofóbicos, ganhou 90 cadeiras no parlamento e promete mudanças com relação ao euro.

Respondendo à questão anterior: o dinheiro e o egoísmo discursam, sobretudo em Parlamentos, mas ainda não sabemos o quão alto suas vozes ecoarão.

Vale citar que ainda existem na Alemanha (e em muitos outros lugares) movimentos nazistas ativos e inclusive um partido chamado NPD - Partido Nacional Democrata -, o qual é antissemita e nega o holocausto.

Na Rússia, a “propaganda gay” é proibida e os homossexuais ainda enfrentam inúmeras dificuldades de enquadramento social. E assim poderíamos continuar com exemplos de diversos países onde há discriminação, onde o preconceito encontra forma e toma força novamente.

Mas por que demos esses exemplos?

Às vezes vem à cabeça uma imagem de superioridade quando pensamos em Europa ou Estados Unidos – “Lá eles são mais educados, são mais isso, mais aquilo”. De fato, a Alemanha é um país desenvolvido e encontra-se numa situação socioeconômica mais favorável que o Brasil.

Porém, nada disso impediu o crescimento de ideias fascistas em sua sociedade. Os americanos, que exportam seu incrível estilo de vida através de filmes e cartões postais, enfrentam graves problemas relacionados ao preconceito, à saúde pública e ao porte de armas. Protestos contra o assassinato de jovens negros por parte da polícia tomaram as ruas de Baltimore, em 2015.

Países desenvolvidos não estão isentos de problemas sociais! Países desenvolvidos também perseguem minorias!

Qual o motivo dessa perseguição?

Bem, essa pergunta intriga pensadores, diplomatas, religiosos, filósofos... E ciência humana requer análises profundas de comportamento.
Para Freud, em “O mal estar da civilização”, há uma inclinação à agressividade intrínseca ao homem.

Para Nietzsche, “não se odeia quando pouco se preza, odeia-se só o que está à nossa altura ou é superior a nós.” Seguindo essa linha de raciocínio, chegaríamos à noção de que o ódio é uma camuflagem superficial que busca esconder um complexo de inferioridade, uma insegurança.

Já a tradição oriental de cunho religiosa coloca a questão sobre uma nova perspectiva: o ódio e o amor são uma coisa só, porém, nas mãos do indivíduo inconsciente (que não conhece a si mesmo), não há equilíbrio entre ambas as sensações e o resultado é o caos interno, psicológico, mental, que gera consequências externas, como o preconceito racial, por exemplo.

Há inúmeras maneiras de se avaliar a situação, mas não há nenhuma que justifique discriminar ou agir de forma violenta contra um ser humano.

E o que fazer diante do preconceito racial e da discriminação?

Bem, já possuímos leis que tornam o racismo um crime no Brasil. Nesses casos, não fiquem calados: denunciem!
Entretanto, o preconceito racial pode aparecer de formas mais subjetivas – algumas empresas exigem currículo com foto ou recusa-se sentar ao lado de um negro no ônibus, por exemplo. Esses são os casos mais difíceis de lidar...

O jeito é conscientizar. Desde sempre, trabalhar na formação da criança para que esta se torne consciente e não julgue alguém pela cor de sua pele e nem por qualquer outro fator superficial, como gênero e opção sexual.

Proteste, quando necessário. A música, a poesia, a arte como um todo é um mar a ser explorado para lutar contra ideias discriminatórias.

Para finalizar, fique com esses dois vídeos. O primeiro é o mais novo lançamento do rapper Childish Gambino, e traz várias mensagens (algumas subliminares) que visam conscientizar acerca de problemas sociais nos EUA, com ênfase no racismo. Se quiser uma explicação completa de cada cena, para não perder nenhum detalhe, clique aqui. Porém, tome cuidado porque o vídeo contém fortes cenas de violência, inapropriado para menores de idade e pessoas altamente sensíveis.

O segundo é um curta produzido para mostrar como ideias podem ser colocadas subjetivamente até em crianças, na hora de escolher qual bebê é bom e qual é mal.

Childish Gambino (contém fortes cenas de violência)
Os efeitos do racismo nas crianças

Escrito por: Mateus Zampieri, 22 anos, redator publicitário e estudante de filosofia.

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