Setembro Amarelo, em meio à pandemia

Setembro Amarelo, em meio à pandemia

“Pela manhã, às 6 horas, o criado entrou no quarto com a luz. Encontrou o seu senhor no chão, viu a pistola e o sangue. Chamou-o, mexeu nele; nenhuma resposta, ele ainda agonizava. (...) Estava estendido de costas perto da janela, inerte, todo vestido e calçado, de casaca azul e colete amarelo.”

O trecho acima pertence ao livro Os sofrimentos do jovem Werther, obra alemã que inaugurou o romantismo e tornou-se famosa por uma implicação surpreendente na época de sua publicação. Em 1774, o chamado Efeito Werther levou muitos jovens a criarem enorme conexão com a angústia do protagonista e tomarem sua mesma atitude extrema: o suicídio.

A tendência a repetir um comportamento que coloca a própria vida em risco não é exclusividade de uma época ou nação. A ideia da morte como uma saída para um grande momento de desespero ou trauma coletivo infelizmente ressurge durante crises de larga escala.

Segundo meios de comunicação como o site Scientific American, desde o início da quarentena instituída pelo risco da COVID-19, relatos sobre pessoas que decidem tirar a própria vida tem se alastrado de modo preocupante ao redor do globo. Por essa razão, no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio e no mês do Setembro Amarelo, torna-se mais necessário ainda discutir o tema e entender a questão.

Mais de cinco meses após o início oficial do surto de Coronavírus, ainda é impossível mensurar a extensão dos danos que o medo e a insegurança possam ter causado à saúde mental das pessoas. Em entrevista ao jornal New York Times, um professor de psicologia da Universidade Harvard tenta descrever o cenário: “É um experimento natural, de certo modo,” disse Matthew Nock. “Não há somente um aumento na ansiedade, mas a parte mais importante disso é o isolamento social”. Ele acrescenta, “Nós nunca tivemos nada assim antes e nós sabemos que isolamento social está relacionado ao suicídio”.

Frente a essas questões, entender de que qualquer pessoa pode estar enfrentando dificuldades emocionais bastante específicas neste período, nos leva a agir com maior solidariedade e atenção. Encontrar meios de estar disponível à distância é a forma mais prudente e humana de ajudar o próximo sem colocar a própria vida ou a de outrem em risco.

A Fundação busca continuamente promover conversas referentes à saúde mental entre os indivíduos tidos como mais vulneráveis, sejam eles jovens ou idosos; estimula-se, também, a atitude proativa quando se trata de cuidar do nosso próximo e estar sempre atento aos sinais de fragilidade emocional de quem amamos.

Este cuidado, uma responsabilidade pessoal e social, precisa extrapolar o nível privado e alcançar mudanças culturais para que o ato de externar temores e angústias seja algo saudável e efetivo entre todos. O CVV (Centro de Valoração da Vida) é uma linha de apoio que funciona 24 horas por dia e atende no número 188 quem precisa de cuidado emocional e auxílio num momento crítico. Contar com pessoas dispostas a ajudar é um grande passo na direção de alívio. A vida humana tem grande valor e é preciso demonstrar isso por meio de nossas próprias vidas.

Texto escrito por Caio Sartori, 24 anos, Bacharel em Letras pela USP, professor de inglês e voluntário da FCG
Revisado pela Kátia Gonçalves, psicóloga, coordenadora de voluntariado e gestora na FCG

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